Não há nada que mine mais a nossa eficiência complacente ou nossa confiança profissional que o reconhecimento de que jamais nos tornaremos especialistas em oração. Quando começamos a perceber todo o potencial do nosso relacionamento com Deus, temos que admitir que somos todos ainda principiantes na oração.
Uma das tendências negativas do monasticismo medieval, foi a de dividir os cristãos em “os religiosos” (os monges, os padres, e assim por diante) e “os leigos” (os cristãos que não tinham cargos eclesiásticos), assim como nós fazemos a distinção entre profissionais e amadores. Isso levanta uma importante pergunta: Quando um padre ou um pastor ora por mim, será que suas orações, são, de alguma maneira, “melhores” do que as minhas? Ou será que isso é apenas uma desculpa para eu não precisar ter meu próprio encontro com Deus?
O Novo Testamento diz-nos que “muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tg 5.16). Mas essas orações são poderosas não porque a pessoa que está orando é uma especialista na oração, e sim porque ela é justa. Não é graças ao conhecimento especializado ou ao profissionalismo que nossas orações tornam-se eficazes. Elas assim o serão se nós desfrutarmos e um relacionamento verdadeiro e profundo com Deus.
Muitos atletas olímpicos ainda hoje, procuram preservar a tradição amadorística no esporte. E, no entanto, temos visto como a preocupação com o prestígio nacional tem esmagado o amor puro pelos esportes por causa da ferocidade do espírito nacionalista. E também temos visto como o uso de esteróides e de outras drogas tem afastado o esporte do amadorismo.
O que está acontecendo no mundo dos esportes é um reflexo das tendências de nossa cultura. A totalidade da vida vem sendo repartida entre os “especialistas”, aos quais se atribui o direito exclusivo de falar sobre sua área de especialidade. A desagregação de uma família transformou-se numa área de especialização e, portanto, quando João e Maria decidem separar-se, os profissionais aparecem em cena e tomam conta da situação. O Terceiro Mundo é vítima da “mania do diploma”, que leva as pessoas a buscarem desesperadamente um documento que os livre da tirania da pobreza e de ser um “Zé ninguém”. Em meio essa obsessão cultural com a especialização, é imprescindível que a vida cristã preserve sua própria condição amadorística.
A oração é o maior antídoto para o profissionalismo, pois, expressa a nossa amizade com Deus como o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Contudo, quanto mais os especialistas dominam a situação, menos incentivo há para a oração. Para que orar, se os especialistas podem resolver nossos problemas? Quanto mais auto-confiantes nos tornamos, orgulhosos de nossas próprias qualidades e habilidades, mais fácil fica seguir o caminho do ateísmo.
Se firmarmos o propósito de perseguirmos o “sucesso”, nossa vida se tornará mecânica. Nossa determinação e interesse próprio constituirão uma força irresistível que esmagará nossos relacionamentos em seu avanço rumo ao “sucesso”. É somente quando percebemos os mistérios da vida e dedicamos mais de nosso tempo e energia aos relacionamentos que sentiremos a necessidade de encontrarmos Deus em oração.
Isso nos conduz a uma questão ainda mais profunda, que está por trás do problema do profissionalismo em nossa cultura. Temos a tendência de valorizar as realizações educacionais, e deixar em segundo plano as realizações morais, emocionais e relacionais. Passou a ser mais importante o filho ter uma bolsa para estudar em Oxford ou Yale do que ser um cristão praticante. O resultado é que a nossa sociedade está repleta de pigmeus morais, e de gigantes tecnológicos.
A distorção do pecado nos deixa com a impressão de que a vida emocional não é o mais importante na economia humana. Ao depreciarmos nossos relacionamentos – priorizando a obtenção de um diploma, um salário mais alto ou uma carreira melhor – condenamo-nos à desagregação familiar, à falta de identidade pessoal, e, finalmente, à solidão. Os pensamentos não suprem a falta do amor, e sem amor não pode haver existência humana genuína. A intenção de Deus era a de que o pensamento fosse uma ferramenta para enriquecer nossas vidas – e não um substituto para a própria vida.
Nossa capacidade de nos relacionarmos profundamente é o que nos distingue dos animais. É por isso que a oração faz parte da essência do ser humano. O filósofo moral, John MacMurray, declarou: “A amizade é o fato religioso fundamental da vida humana”. Eis porque todos nós precisamos perseverar na nossa jornada de oração, permitindo que Deus nos torne mais plenamente humanos.
Extraído do livro “ ORAR COM DEUS, Desenvolvendo uma transformadora e poderosa amizade com Deus” de James Houston
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